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Agricultores do Seridó |
Nos
dias 21 e 22 de agosto, os agricultores de São João do Sabugi, São Vicente e
Caicó participaram do Intercâmbio Interestadual do Programa Uma Terra e Duas
Águas, realizado pelo Serviço de Apoio aos Projetos Alternativos Comunitários
(SEAPAC), com o apoio do Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES). O objetivo foi incentivar as práticas para geração de renda e melhoria na qualidade de vida das
famílias que conquistaram as cisternas e barreiros trincheira.
O dia
já estava claro quando os agricultores saíram para dar início a viagem que duraria
quatro horas e meia até o destino final, Solânea, localizada na região do Brejo,
na Paraíba. Todos estavam ansiosos para a chegada e, com conversas animadas,
seguiram compartilhando diversas histórias com os colegas.
O
cenário foi mudando a cada quilômetro, o frio tomou conta da serra e das
cidades que antecediam o destino principal, até que avistaram o primeiro sinal
da cidade paraibana. Os agricultores foram recebidos com chuva, e os sorrisos
se espalharam pelo ônibus quando foi avisado que a primeira parada seria para o
almoço.
Depois
de saciados, as visitas começaram na sede do Sindicato dos Trabalhadores Rurais
de Solânea, para uma breve explicação sobre os projetos realizados nas
comunidades. O presidente do Sindicato, Josenildo Costa, a secretária, Maria do Céu, e o
representante da Comissão de Recursos Hídricos, Antônio José, fizeram uma
explanação do funcionamento das ações no local, além de manter todos informados
sobre as divisões da cidade em Brejo da Fruta, Brejo do Roçado e Agreste, cada
uma com suas particularidades no clima e na vegetação.
A luta
pela agroecologia é marca registrada na região. Os programas para o
desenvolvimento da prática são incentivados pelas comissões que fazem parte
do Pólo de Sindicatos da Região da Borborema, totalizando 15 sindicatos divididos
pelas cidades da região.
As primeiras experiências
Após
a conversa no sindicato, chegou o momento de conhecer, na prática, como
aconteciam as ações. Todos se dirigiram para a comunidade Salgado de Souza,
localizada em Brejo do Roçado, também conhecido por Curimataú, e que chama
atenção pela diferença climática. Apesar de ficar a pouco mais de 20km
de Brejo da Fruta, apresenta as características do semiárido seco.
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Seu Luiz explicando sobre o reflorestamento |
Guiados
por Edvanildo Pereira, que trabalha no apoio aos projetos desenvolvidos pelo
sindicato, os agricultores seguiram na estrada de terra até chegar na casa do
senhor Luiz Souza e da esposa, Eliete Pereira. Seu Luiz é conhecido pela
prática do reflorestamento em sua propriedade e contou aos colegas visitantes
que, quando chegou nas terras onde mora, o solo era enfraquecido pela
devastação e plantio excessivo de grãos, além da criação de gado, que prejudica
a terra com o pisoteio.
Sabendo
disso, depois de passar por algumas atividades de aprendizagem com manejo da
terra, seu Luiz e dona Eliete se conscientizaram e decidiram colocar em prática
o reflorestamento com plantas locais, trazendo a fertilidade de volta para a
terra.
Palma,
juazeiro, agave, umburana, angico, barriguda, sabiá, leucena e sorgo são
algumas das plantas que foram utilizadas para a prática do reflorestamento,
dando destaque para a gliricídia que é utilizada para cercas vivas, junto com o
mandacaru, e atua na melhoria da qualidade do solo.
Seu
Luiz também faz o plantio da roça, cria animais, mantém o cultivo de uma horta
com diversas espécies de plantas medicinais e frutíferas. Ele ainda cuida do
processo de estocagem de forragens, fazendo silagem do milho, palha de milho,
folha da gliricídia, capim elefante, sorgo e maniçoba.
Dona Irene das plantas
A
segunda visita do dia foi na casa de Irene Teófilo Barbosa, mais conhecida como
Irene das plantas, na comunidade de Bom Sucesso, ainda na região do Curimataú. Dona
Irene é conhecida pela diversidade de plantas ornamentais que produz na sua
propriedade. Ela contou que o número de variedades se deve ao fato de trocar as
espécies de plantas com as amigas. Irene e o marido, José Pedro Barbosa, vendem
as plantas para complementar a renda da família, composta pelo casal, a mãe
dela e mais dois filhos.
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Dona Irene e seu marido José Pedro |
No
quintal de dona Irene também encontra-se variedades de pés de frutas.
Carambola, caju, romã, manga, abacate, pinha, laranja, acerola, goiaba,
pitanga, mamão e graviola são algumas que podemos encontrar, além das plantas
medicinais que, em sua maioria, são plantadas ao redor da cisterna calçadão.
As
agricultoras e agricultores potiguares logo se entusiasmaram, e fizeram compras
de mudas para plantarem em suas casas, quando retornassem de viagem. Após as
visitas, todos foram levados ao hotel para tomar banho, jantar e descansar para
a programação do próximo dia.
Segundo dia
Depois
do café da manhã reforçado, chegou a hora de seguir com as visitas. A primeira
parada do dia foi na Feira de Agricultura Familiar, que é realizada toda
sexta-feira, em uma parceria do sindicato e com os agricultores locais.
Os
potiguares se alegraram com a iniciativa, garantindo logo o feijão verde e os
legumes do almoço no dia seguinte, em casa, com suas famílias. A diversidade
era grande. Banana, acerola, coentro, espinafre, brócolis, alface, macaxeira e
inhame eram alguns dos produtos oferecidos pelos agricultores locais.
Quando
terminaram suas compras, os agricultores se dirigiram às últimas visitas que,
dessa vez, seriam realizadas em Brejo da Fruta.
Penha e dona Benta
Descendo
a Ladeira do Sabiá, passando pela Chã de Santa Tereza, o próximo destino seria
o Sítio Videl para conhecer outra Maria da Penha. A paisagem chamava a atenção
dos potiguares. As serras apresentavam uma vegetação verde e enchia os olhos
dos visitantes com a beleza local.
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Maria da Penha explicando o manejo das mudas |
Lá,
os agricultores foram recebidos com muita alegria por Penha e sua mãe, dona
Benta, que falaram sobre a dificuldade do cultivo na região. Apesar de
apresentar mais umidade, a terra não era fértil devido o desmatamento na
região e foi necessário o reflorestamento e o cuidado com o solo para que
voltassem a cultivar.
Hoje,
a plantação foi melhorada, a família garante a produção de várias espécies de
frutas, hortaliças, leguminosas e raízes. Dona Benta, emocionada, diz que se
sente feliz com tudo, e que a visita dos agricultores de outras regiões é uma
forma de reconhecimento do trabalho feito pela família. “É muito bom saber que
deu certo. Quando vem gente de outros lugares ver o que a gente fez, fico
muito feliz em ver que eles estão gostando do nosso trabalho”, relatou.
Uma
das experiências desenvolvidas na região também pode ser acompanhada na casa da
família: o fogão agroecológico, que utiliza pequenos gravetos para o
funcionamento, além da baixa emissão de fumaça no meio ambiente.
Ao
fim da visita, um lanche foi oferecido, fruto da produção do roçado de Benta,
Penha e seu pai, Severino. Bolo de cenoura, pão caseiro, biscoitos, suco de
limão com capim santo, chá e café foram saboreados ao longo de conversas e
risadas.
Viveiro Comunitário
A
última parada foi no Viveiro Comunitário do Videl, junto com Penha, que também é
representante do projeto, onde os participantes puderam conferir mais uma
iniciativa que busca reafirmar o compromisso com o reflorestamento.
Várias
mudas de plantas foram adotadas pelos agricultores do Seridó, que prometeram
cuidar delas em seus quintais para, no futuro, colher os bons frutos da
agroecologia.
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Viveiro Comunitário |
Ao
término, todos voltaram à cidade para uma avaliação final. Eles se mostraram
satisfeitos com a visita e tudo o que foi aprendido durante o intercâmbio.
Depois
do almoço, a ansiedade para o retorno às suas casas era grande. Eles teriam
muitas histórias para compartilhar com os familiares, além dos planos para as novas
práticas agroecológicas, que agora seriam colocados em prática.
Para
seu Inácio Loiola, de São João do Sabugi, as experiências rederam boas ideias
que começariam a fazer parte do cultivo em sua terra. Ele voltou, o caminho
inteiro, discutindo com os novos amigos, de Caicó e São Vicente, sobre as
técnicas que iam melhorar o plantio e a criação de animais na região do Seridó.
“São muitas ideias que podemos trazer para a prática. Não há terra ruim, a
questão é só o manejo e as novas possibilidades de melhoria”, afirmou.